Publicado em 12/01/2012 10:40
Outro grande problema é a difamação das lideranças de
movimentos contrários à mineração por veículos de comunicação.
Milícias contratadas
por grandes mineradoras como a Vale vêm perseguindo os movimentos
sociais contrários aos impactos da mineração. A denúncia foi feita por
povos tradicionais e indígenas da Amazônia durante o Observatório de
Conflitos Mineiros na America Latina (OCMAL), realizado em Quito, no
Equador, no início deste mês.
Segundo os participantes, a
perseguição por milícias e a criminalização dos movimentos sociais
pela mídia são alguns dos principais problemas enfrentados por afetados
pela mineração na Amazônia latino-americana. Segundo Edmilson
Pinheiro, representante da campanha Fórum Carajás que esteve no
encontro, integrantes de movimentos de Brasil, Chile, Peru, Colômbia e
Guatemala, especialmente indígenas e mulheres, falaram sobre as
constantes ameaças que vêm sofrendo por se oporem à mineração em suas
terras.
"No Peru, foi descoberta
uma lista, uma espécie de dossiê com o nome de lideranças dos
movimentos sociais e informações sobre elas, desde foto e idade até se
têm conta corrente ou não", disse Pinheiro ao demonstrar até que ponto a
luta contra esses empreendimentos pode ser perigosa. "No Norte,
também sabemos que é comum a contratação de jagunços para a defesa das
áreas dos projetos das mineradoras", acrescentou.
O representante do Fórum
Carajás também afirmou que, além das milícias usadas para pressionar os
camponeses, outro grande problema é a difamação das lideranças de
movimentos contrários à mineração por veículos de comunicação. Um dos
exemplos foi o que aconteceu com a Campanha Justiça nos Trilhos. O
movimento, que luta contra a mineração do Pará, foi apontado pelo
jornal paraense O Liberal como uma campanha que atrapalharia a
atividade econômica da Vale, com a invasão da estrada de ferro e de
áreas pertencentes à empresa. Pinheiro desmente o fato, argumentando
que os movimentos sociais buscam a garantia dos direitos humanos e o
combate aos impactos das atividades da mineração.
De acordo com Pinheiro, os
efeitos nocivos da mineração aos povos tradicionais vão desde o
deslocamento das populações de suas terras até a exposição dessas
pessoas à poeira química e aos produtos tóxicos decorrentes da
exploração de minérios em geral.
"As estações minerárias
geralmente ocupam grandes áreas e não há como não haver impacto direto
ou indireto da atividade sobre as populações que vivem do extrativismo,
como indígenas e populações tradicionais", disse.
Ainda segundo ele, as
pessoas que são obrigadas a sair de suas terras para dar lugar a
projetos de mineração não recebem acompanhamento das empresas ou de
governantes para que sejam minimizados os impactos sociais negativos do
seu desalojamento.
Com relação às áreas onde a
exploração de minérios já foi instalada, como é o caso da região de
Carajás, no Pará, os movimentos sociais vêm buscando o diálogo com a
Vale do Rio Doce, os governos e as comunidades locais para tentar
chegar a uma solução para os atuais problemas.
Mas, de acordo com
Pinheiro, a conversa com e empresa não tem sido fácil. Ele diz que a
Vale continua desrespeitando assentados, trabalhadores sem-terra e
indígenas afetados pela mineração nas áreas onde atua. "Tentamos fazer
agora com que o governo tenha conhecimento dessas coisas e reivindique
à Vale, no mínimo, infraestrutura aos municípios que ficam ao longo da
estrada de ferro", afirmou.
Outro mecanismo de defesa
usado pelos movimentos tem sido pedir ao Ministério Público que
verifique casos de desrespeito à lei ambiental e aos processos
previstos para o licenciamento de atividades com impactos ao meio
ambiente.
Próximos passos
Um projeto futuro da rede
de movimentos de afetados pela mineração é o de divulgar nos países
onde haja acionistas da Vale do Rio Doce e de outras mineradoras,
informações sobre os efeitos danosos da ação dessas empresas, desde sua
implantação. A ideia é conscientizar aqueles que aplicam dinheiro na
mineração sobre os impactos reais da atividade, em oposição ao
marketing de sustentabilidade usado pelas mineradoras.
"A Vale diz que faz tudo de
acordo com responsabilidade social e ambiental gigantescas, plantando
áreas maiores do que aquelas que impactou. Perguntamos onde estão
essas áreas? Só se foi com eucalipto que a empresa plantou, porque com
mata nativa a gente desconhece que ela tenha feito isso", disse
Edmilson.
Para ele, hoje é maior a
integração de diversos países no confronto com empreendimentos de
mineração, inclusive, por meio da produção de estudos técnicos que
servem de base para a defesa dos povos tradicionais afetados pela
atividade.
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