Como e por que um prédio desaba
Obras, falta de manutenção e terreno frágil contribuem para quedas como a que ocorreu no Rio. Infográfico mostra quais situações levam um imóvel a ruir
Manhã seguinte do desabamento de 3 prédios no Rio de Janeiro, na noite do dia 25 de janeiro - Adriano Ishibashi/Folhapress
Como em um acidente aéreo, os fatores que levam um prédio a desabar são
múltiplos. A engenharia tem técnicas e práticas para dar margem de
segurança a uma construção. Assim, uma falha pode ser compensada por
fundações e estruturas bem projetadas e bem executadas. E a edificação
fica de pé. Quando erros se acumulam, no entanto, a tragédia espreita.
Foi o que aconteceu na noite de quarta-feira no Centro do Rio de
Janeiro, quando o Edifício Liberdade, de vinte andares, ruiu e levou
abaixo dois prédios vizinhos - um sobrado de quatro andares e o Edifício
Colombo, de dez andares. Até agora, os bombeiros retiraram dos
escombros os corpos de onze pessoas.
As autoridades ainda investigam o que causou o desabamento.
Especialistas ouvidos pelo site de VEJA apontam três fatores que
contribuíram para a tragédia: obras irregulares, falta de manutenção e
um terreno frágil.
"O desabamento de um prédio é algo excepcional. É preciso que haja um
conjunto de fatores para que isso ocorra", diz Paulo de Mattos Pimenta,
professor do Departamento de Estruturas e Geotécnica da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Dois andares do Edifício Liberdade passavam por obras. Uma delas, no 3º
piso, começou há seis meses. Ali, segundo relatos dos funcionários,
foram retiradas todos os pilares e paredes. As reformas não tinham registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ).
Os pilares e as vigas são as estruturas de sustentação mais importantes
de um prédio e não podem ser retiradas em hipótese alguma. As paredes,
muitas vezes, têm também uma função estrutural. Por isso, quando se vai
fazer uma reforma, é fundamental verificar a planta do local e medir o
risco da intervenção. "Há paredes com função portante, ou seja, que
ajudam a sustentar o prédio. Elas não podem ser retiradas", diz o
engenheiro e professor da Universidade de Brasília (UnB) Dikran
Berberian.
Além disso, é preciso levar em consideração que o
Edifício Liberdade foi construído na década de 1940. Desde então,
deveria ter passado por sete vistorias minuciosas para manutenção: a
recomendação técnica é fazer o acompanhamento a cada dez anos, no
mínimo. As autoridades ainda não sabem se os procedimentos, que são
responsabilidade da administração do condomínio, estavam em dia.
Mattos Pimenta, da USP, acredita que as estruturas do prédio estavam em
um processo de corrosão que passou despercebido pelos ocupantes do
edifício. "A manutenção identificaria um problema como esse”, diz o
professor. Com esse risco latente, qualquer alteração na estrutura é
problemática. "No Brasil, constrói-se muito bem, mas as pessoas esquecem
que obra precisa de manutenção", afirma Berberian, da UnB.
Há de se considerar ainda que o prédio foi construído sobre uma área
aterrada, onde, até o século XVII, havia uma lagoa. Construções em
terrenos frágeis - arenosos ou moles - exigem fundações mais profundas e
sólidas.
Como uma implosão - O Edifício Liberdade desmoronou
como um castelo de cartas e os destroços que caíram da parte mais alta –
que colapsou sobre os andares mais baixos – derrubaram os dois prédios
vizinhos. Esse tipo de queda geralmente acontece quando o incidente é
causado por problemas estruturais.
"É como se o prédio estivesse sendo implodido", explica o professor da
USP Mattos Pimenta. Já problemas nas fundações - as sustentações que
ficam debaixo da terra - fazem com que a edificação tombe, ou seja, caia
para os lados, para frente ou para trás.
No Rio de Janeiro, o trabalho da perícia só começará quando forem concluídas as buscas por vítimas. A Polícia Civil abriu inquérito
e o delegado titular da 5ª Delegacia de Polícia, de Mem de Sá, Alcides
Pereira, está ouvindo as testemunhas. As autoridades buscam agora
explicações para o incidente. Espera-se que tragam também uma lição para
que tragédias como essa não se repitam.
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