domingo, 29 de janeiro de 2012

Técnico não usava equipamento de segurança

Técnico não usava equipamento de segurança (Foto: Diário do Pará)
(Foto: Diário do Pará)
O dia que era para ser mais um na rotina de trabalho do técnico Walmir Trindade Costa, 58 anos, foi, na verdade, o último. Na manhã de ontem, durante manutenção no elevador do prédio da Associação Comercial do Pará (ACP), o funcionário que realizava a troca de um dos elevadores do edifício despencou junto com a plataforma de quase uma tonelada, do 13º andar até o térreo. O acidente aconteceu por volta das 11h, quando os elevadores estavam interditados.
No instante do acidente, apenas três funcionários da empresa Conserp Elevadores, contratada para a manutenção, trabalhavam na substituição dos elevadores. Walmir fazia a troca dos cabos e estava em cima da cabine quando a estrutura de sustentação cedeu. Ele não resistiu ao impacto e faleceu no local. Os outros dois funcionários foram atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e liberados sem nenhum ferimento. O corpo de Walmir foi removido por volta das 13h e encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML).
No hall de entrada do edifício, os materiais e equipamentos para realizar a substituição das plataformas por modelos novos ainda estavam dispostos no chão, mas a manutenção foi adiada, assim como o atendimento no prédio, que só será retomado hoje. O edifício Antônio Martins Junior foi construído em 1969 e, segundo a assessoria da ACP, a dupla de elevadores nunca havia sido trocada. Segundo os bombeiros, os elevadores estavam em manutenção há um mês e apresentavam sinais de desgaste, além de serem antigos.
Fato confirmado por usuários do prédio. Gleice Menezes, funcionária de uma assessoria de cobranças, relatou que com muita frequência os elevadores paravam. “Era muito comum eles (elevadores) travarem. Cansei de ficar presa por horas nele”, contou a funcionária. Ela, que trabalha no sétimo andar, ainda contou que a impressão no momento da queda do elevador era de que o prédio estava desabando. “O barulho foi muito forte. Até o piso tremeu”.
A mesma reclamação partiu de Maurício Azevedo, corretor e empresário que há seis meses entregou a sala comercial no prédio justamente por causa dos constantes problemas nos elevadores. “Essa foi uma tragédia anunciada. Diversas vezes fiquei preso no elevador. O resgate era um verdadeiro malabarismo, pois tínhamos que pular de uma cabine à outra enfrentando a distância que as separava, onde só se via a escuridão do fosso”.
PERÍCIA
O coronel Mário Morais, do Corpo de Bombeiros, que chefiou a perícia no local, afirmou que apesar da vítima atuar no reparo de elevadores há 27 anos e na empresa Conserp há quatro, não usava equipamento de segurança no momento do acidente. “Ele estava em cima do elevador e provavelmente o cabo de aço que faz a sustentação arrebentou. Como não usava o cinto de segurança e nem capacete, ele caiu junto”, explicou o coronel.
Segundo Haroldo Sadala, engenheiro civil e diretor da Associação de Engenharia de Segurança no Trabalho (Aest), os equipamentos de segurança individual (EPIs) seriam determinantes para a sobrevivência de Walmir Trindade. “O principal seria a cadeirinha de para-quedista, que o impediria de cair junto com o elevador. Ele teria ficado pendurado e ainda estaria vivo”.
A perícia inicial aponta para erro na manutenção e também problemas relacionados ao equipamento do elevador. Arnaldo Augusto de Sousa Júnior, engenheiro mecânico do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves e responsável pela apuração do acidente, afirma que, em um primeiro momento, houve falha humana. “Com mais cuidado iremos apurar até que ponto essa falha influenciou ou foi determinante para o acidente”.
Arnaldo Sousa Júnior frisa que apesar do elevador envolvido no acidente não apresentar mais condições de uso, a segunda cabine ainda pode ser utilizada. “Desde que entregue em condições, após reparo, essa plataforma poderá ser usada. Mas até o momento ela fica interditada para que sua manutenção seja concluída” disse.
FAMÍLIA
“Todo o apoio será dado à família de Walmir. Além de arcar com despesas do velório e enterro todos os direitos serão assegurados, desde pensão até o seguro de vida”, afirmou Jorge Carvalho, gerente operacional da Conserp Elevadores. O representante da empresa lamentou a morte e disse que as providências já estão sendo tomadas para auxiliar a esposa e filhos de Walmir.
Em nota à imprensa, a ACP manifestou pesar pela morte do operário e afirmou que a obra realizada no prédio era de responsabilidade da empresa contratada para o serviço e que caberá a eles esclarecer o ocorrido. O prédio da ACP foi evacuado logo após o acidente e teve o seu funcionamento suspenso durante todo o dia de ontem. (Diário do Pará)

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