domingo, 26 de agosto de 2012

Promotoras dizem que não vão recuar

Ameaçadas
Rosana Cordovil e Elaine Castelo Branco estão na luta contra o crime
A promotora de Justiça Rosana Cordovil já escapou de um atentado em junho de 2006. Ela chegava de táxi no prédio das Promotorias de Justiça Criminais, em Belém. O ataque só não ocorreu porque o policial de serviço na portaria saiu para ajudá-la a carregar os processos trazidos por ela. Ele percebeu que a promotora fora seguida por quatro homens que ocupavam duas motos. Esse fato foi apurado pelo Grupo de Prevenção e Repressão a Organizações Criminosas (Geproc), do Ministério Público estadual, mas não foi possível a identificação dos homens
Cordovil anda com escolta policial 24 horas por dia desde a morte de Manoel Gonçalves, em maio de 2010. Ele foi a segunda testemunha de acusação do caso Rafael Viana morta em seis meses. Rosana diz que, desde o episódio em que foi seguida pelos sujeitos nas motos, já havia mudado sua rotina, evitando ao máximo sair à noite e se expor em locais públicos. E os cuidados só aumentaram. "Eu não tenho dúvida de que o risco de morte que corremos é muito grande. E qualquer descuido pode ser fatal", afirma. Mas o fato de estar sendo ameaçada não mudou a conduta profissional da promotora. "De forma alguma, eu jamais recuarei em minhas decisões".
EM ALERTA
Elaine Castelo Branco começou a andar com escolta um mês antes da promotora Rosana. Por ocasião da denúncia, a situação dela se apresentava pior. É que, para o autor do plano contra elas, Rosana estava apenas fazendo seu papel e Elaine, como defensora de direitos humanos, estaria tentando incitar a população contra o tenente Negrão, e era responsável pelas entidades de defesa de direitos humanos e sociedade civil se voltarem contra ele.
O fato de estar ameaçada, e andar escoltada, tirou a sua privacidade. "A rotina mudou por completo. Aliás, não tenho mais rotina e nem posso ter. Não frequento lugares abertos. Não me sento mais de costas para nenhuma porta ou janela e fico constantemente olhando para todos os lados no lugar em que me encontro", explica.
Há, ainda, uma outra situação. Quando Elaine tem que ir em lugares públicos, à noite, o policial que a acompanha está descaracterizado. Aí, nesse caso, ela tem sempre que explicar que aquele homem é um policial e não um companheiro. "São coisas constrangedoras", diz Elaine. Mas essa realidade também não mudou a atuação da promotora. "Jamais recuarei em minhas decisões", garante. O tenente Negrão nega todas as acusações feitas contra ele.
Presidente da Associação do Ministério Público do Estado do Pará (Ampep), o promotor deJustiça Samir Tadeu Moraes Dahás Jorge diz que o Ministério Público passou a investigar o crime organizado, corrupção e desvios de verbas públicas. "Isso incomoda pessoas com alto poder econômico e que não se conformam com a postura adotada pela nossa instituição, procurando intimidar os promotores de Justiça", afirma. Ele diz que os promotores estão sob escolta pelas ameaças sofridas em razão de suas atuações funcionais. A maioria dos promotores ameaçados atua no interior do Estado. Até o momento, nenhum deles sofreu atentado, "talvez em razão das medidas adotadas pela administração superior do Ministério Público, que disponibilizou a esses promotores a escolta armada", acrescenta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário