domingo, 26 de agosto de 2012

Animais correm risco nos pet shops

Dois deles morreram dentro de veículo de empresa do setor, na capital paraense
FERNANDA MARTINS
Da Redação
Há anos a relação entre as pessoas e seus animais de estimação mudou. Um reflexo disso é a plena expansão do ramo de pet shops, que são considerados um empreendimento rentável. Entretanto, muitos destes estabelecimentos descumprem a lei e falham em oferecer serviços adequados aos bichos. A consequência disso são animais maltratados, doentes e até mortos, como o caso dos cães esquecidos no carro do pet shop, em Belém, no último final de semana, que causou comoção entre os usuários de internet. Profissionais do ramo recomendam vigilância e cautela na hora de escolher o local que cuidará do bichano e donos de lojas com experiência no ramo mostram o caminho para as boas práticas.
A advogada Luzilda Gonçalves, de 44 anos, ainda não consegue falar sobre seus dois "bebês" - Spinner, um cão da raça yorkshire de 8 anos, e Blanc, um shih tzu de três anos, sem cair em prantos. "Eram meus filhos, membros da minha família. As pessoas não têm noção da dimensão da dor que sentimos neste momento. Mudamos temporariamente para a casa da minha mãe, pois é muito doloroso estar em casa e não ter a presença deles. Eram a alma da casa", resume.
O drama da família começou no último dia 17, quando o carro do empresa Pet Store, buscou os cães para o banho e tosa semanal. Na tarde do mesmo dia, Luzilda recebeu do pai do proprietário da loja a notícia dos falecimentos. "Eu perdi o chão e fiquei desesperada! Quando ele falou que meus ‘filhos’ haviam morrido eu já não ouvi mais nada", relembra. A família registrou Boletim de Ocorrência e um inquérito policial já foi aberto para investigar o caso e apurar responsabilidades.
No mesmo dia, o filho de Luzilda, Ney Júnior, de 24 anos, publicou em sua página pessoal em um rede social o desabafo sobre o caso. O post, que traz uma foto dos bichanos ainda com vida na casa da família, já beira os 11 mil compartilhamentos, feitos não só por amigos, como por pessoas desconhecidas que expressam sua indignação com o descaso do pet shop. A filha mais nova de Luzilda buscou auxílio de um psicólogo para tentar superar a dor da perda. "Eu mesma estou à base de remédios até agora. Nada que a Pet Store fizer vai trazer meus ‘bebês’ de volta, mas eu espero que não só eles como todas as outras lojas tenham mais atenção no trato destes animais", desabafa a advogada.
A família considerou imoral a oferta da loja, que pretendia doar dois cães da mesma raça em substituição aos mortos. "É o mesmo que oferecer duas crianças diferentes para uma mãe que perdeu os filhos. Isso é absurdo", opina Luzilda. O advogado do Pet Store, Pedro Bentes Neto, não retornou os contatos da reportagem.
despreparo
"Como o ramo de pet shops está em expansão, devido à conexão emocional cada vez maior dos donos com seus bichinhos, muitas pessoas entram no negócio sem o preparo adequado. Os pet shops crescem em quantidade, mas não em qualidade". A afirmação é do médico veterinário carioca Sérgio Lobato, autor do livro "Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas, Consultórios e Pet Shops".
A presença de um veterinário, chamado Responsável Técnico (RT), em todos os pet shops, é obrigatória. Este profissional é o responsável por manter o bem-estar dos animais dentro do estabelecimento. "Falta ao próprio RT a consciência de seu papel dentro da loja, pois ele será responsabilizado também pela ação de terceiros naquele local. De modo geral, falta treinamento em técnica, legislação e segurança neste setor", afirma.
Em Belém, a situação é parecida. Ao desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a então graduanda de Medicina Veterináriam, Elenara Botelho, de 26 anos, esbarrou na situação irregular de muitos pet shops em Belém. "Estava conduzindo uma pesquisa sobre inseminação de cadelas e visitei inúmeros pet shops em Belém. Acredito que entre 30% e 40% deles não possuíam médicos veterinários. Todos já tinham desculpa pronta: ou chamariam um veterinário caso necessário ou o profissional não estava no momento", diz a jovem.
A pesquisa foi concluída no final do ano passado e a estudante considerou levar a descoberta ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Pará. "Comentei com a banca do meu TCC, que me encorajou, mas acabei sem tempo para formalizar a denúncia", lamenta.

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