Dois deles morreram dentro de veículo de empresa do setor, na capital paraense
FERNANDA MARTINS
Da Redação
Há
anos a relação entre as pessoas e seus animais de estimação mudou. Um
reflexo disso é a plena expansão do ramo de pet shops, que são
considerados um empreendimento rentável. Entretanto, muitos destes
estabelecimentos descumprem a lei e falham em oferecer serviços
adequados aos bichos. A consequência disso são animais maltratados,
doentes e até mortos, como o caso dos cães esquecidos no carro do pet
shop, em Belém, no último final de semana, que causou comoção entre os
usuários de internet. Profissionais do ramo recomendam vigilância e
cautela na hora de escolher o local que cuidará do bichano e donos de
lojas com experiência no ramo mostram o caminho para as boas práticas.
A
advogada Luzilda Gonçalves, de 44 anos, ainda não consegue falar sobre
seus dois "bebês" - Spinner, um cão da raça yorkshire de 8 anos, e
Blanc, um shih tzu de três anos, sem cair em prantos. "Eram meus filhos,
membros da minha família. As pessoas não têm noção da dimensão da dor
que sentimos neste momento. Mudamos temporariamente para a casa da minha
mãe, pois é muito doloroso estar em casa e não ter a presença deles.
Eram a alma da casa", resume.
O
drama da família começou no último dia 17, quando o carro do empresa Pet
Store, buscou os cães para o banho e tosa semanal. Na tarde do mesmo
dia, Luzilda recebeu do pai do proprietário da loja a notícia dos
falecimentos. "Eu perdi o chão e fiquei desesperada! Quando ele falou
que meus ‘filhos’ haviam morrido eu já não ouvi mais nada", relembra. A
família registrou Boletim de Ocorrência e um inquérito policial já foi
aberto para investigar o caso e apurar responsabilidades.
No
mesmo dia, o filho de Luzilda, Ney Júnior, de 24 anos, publicou em sua
página pessoal em um rede social o desabafo sobre o caso. O post, que
traz uma foto dos bichanos ainda com vida na casa da família, já beira
os 11 mil compartilhamentos, feitos não só por amigos, como por pessoas
desconhecidas que expressam sua indignação com o descaso do pet shop. A
filha mais nova de Luzilda buscou auxílio de um psicólogo para tentar
superar a dor da perda. "Eu mesma estou à base de remédios até agora.
Nada que a Pet Store fizer vai trazer meus ‘bebês’ de volta, mas eu
espero que não só eles como todas as outras lojas tenham mais atenção no
trato destes animais", desabafa a advogada.
A
família considerou imoral a oferta da loja, que pretendia doar dois cães
da mesma raça em substituição aos mortos. "É o mesmo que oferecer duas
crianças diferentes para uma mãe que perdeu os filhos. Isso é absurdo",
opina Luzilda. O advogado do Pet Store, Pedro Bentes Neto, não retornou
os contatos da reportagem.
despreparo
"Como
o ramo de pet shops está em expansão, devido à conexão emocional cada
vez maior dos donos com seus bichinhos, muitas pessoas entram no negócio
sem o preparo adequado. Os pet shops crescem em quantidade, mas não em
qualidade". A afirmação é do médico veterinário carioca Sérgio Lobato,
autor do livro "Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas,
Consultórios e Pet Shops".
A
presença de um veterinário, chamado Responsável Técnico (RT), em todos
os pet shops, é obrigatória. Este profissional é o responsável por
manter o bem-estar dos animais dentro do estabelecimento. "Falta ao
próprio RT a consciência de seu papel dentro da loja, pois ele será
responsabilizado também pela ação de terceiros naquele local. De modo
geral, falta treinamento em técnica, legislação e segurança neste
setor", afirma.
Em
Belém, a situação é parecida. Ao desenvolver seu Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), a então graduanda de Medicina Veterináriam, Elenara
Botelho, de 26 anos, esbarrou na situação irregular de muitos pet shops
em Belém. "Estava conduzindo uma pesquisa sobre inseminação de cadelas e
visitei inúmeros pet shops em Belém. Acredito que entre 30% e 40% deles
não possuíam médicos veterinários. Todos já tinham desculpa pronta: ou
chamariam um veterinário caso necessário ou o profissional não estava no
momento", diz a jovem.
A pesquisa foi
concluída no final do ano passado e a estudante considerou levar a
descoberta ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Pará.
"Comentei com a banca do meu TCC, que me encorajou, mas acabei sem tempo
para formalizar a denúncia", lamenta.
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